terça-feira, 26 de janeiro de 2010

25/01/2010

Cora,

hoje recebi a visita de algo que vezes é conveniente, outras não: a saudade. Todos os dias ela tem vindo me ver aqui, em nossa casa. Tendo isso me trazido uma agonia, decidi por passar um perfume e dar uma volta.
Chegando às ruas, deparei-me com as vitrinas e olhando-as vi teus gostos. Tudo ali me remetia à ti. Vi as sandálias que me pedistes um dia, mas não tinha o teu tamanho. Agora tem e eu não posso te dar. Irritada que fiquei, peguei um cigarro de dentro da bolsa e parei por ali mesmo, pelas ruas, olhando para o ar. Pensei que algo extraordinário me pudesse acontecer: uma aparição divina, ou tu vindo em minha direção. A única cousa que consegui foi um acesso de tosse.
Segui adiante. Foi então que aconteceu o pior: passei em frente ao lugar onde nos beijamos pela primeira vez. Lá veio a desgraça de novo. Maldito sentimento de falta que não me deixa. E aí me veio uma carência dos teus carinhos, Cora! Que saudades matadoras. Por que nosso tempo foi e tem sido tão injusto?

Logo em seguida desisti de lutar contra e comecei a pensar naqueles nossos momentos, os que foram apenas nossos. As frases clichês, as brincadeiras sem vergonha. Ameacei um riso, seguido de uma angustia ensurdecedora! Acendi outro cigarro. Com a fumaça que eu expirava, pensava comigo: parte dela deve partir com essa penumbra que se forma em frente as minhas vistas. Mas livrar-me de ti não é ter liberdade, é desejar a solidão. E, Cora, tenho preferido à morte ao nosso desencontro.

Voltei para casa e liguei a tevê. Maldita tevê! Nela estava passando um filme ao qual assistimos juntas. Mudei de canal.

Agora estou na cama e escrevo esta carta em um papel com linhas azuis. A tinta da caneta também é azul e eu sou... triste. Azul nem sempre é triste. Li um pouco e agora aguardo, enquanto digito (não para ti, mas para quem interessar lê-la) esta carta, que a fada do sono me visite.

Acabo de puxar o cobertor que comprei e que usamos durante o inverno. Aquele branco, macio, que me roubavas toda noite me deixando completamente descoberta, mas que compraríamos mais e maiores para usar um por semana. Senti-me um pouco mais próxima de ti.

Dear, tanto que te quis só pra mim, tanto que te acolhi em meus braços que acabei por te sufocar e afugentar. Ah!, meu amor... desejo, agora, que nossos anjos nos guiem para caminhos certos, sejam eles os mesmo, fazendo com que nos encontremos lá na frente, ou opostos, para sempre distantes.

Da sempre tua,

Elinor.

3 comentários:

John disse...

Honestamente, seus textos são fontes de inspiração; tanto p'ra vida quanto p'ra escrita. Sinto, ao ler cada um, que envolvem sentimentos um tanto presentes no meu cotidiano.

Enfim, obrigado pelos elogios. Espero ler mais coisas suas em breve.

Anônimo disse...

Primeiro: a nova imagem do blog tá linda. Tão leve e tão doce...

Segundo: Ah cherie!
Somem as palavras quando quero falar das tuas palavras!
São sentimentos à flor da alma que me encantam exatamente por não possuí-los.
Então, bem lenta e mansamente, vem uma invejinha aguada de não sofrer, não morrer de amores, nem de saudades.
Depois passa, e eu fico me vangloriando aqui e ali da minha (suposta) racionalidade... mas, saibas que é aqui - na morada das tuas palavras - que eu costumo me render às vontades do coração (ainda que atraves de outrem).

Beijos, flor.

Marília Alves disse...

A saudade, do jeito que você colocou aqui, é triste de linda.

Tudo o mais que penso em te dizer vem acompanhado por um suspiro. Então, ponho as palavras em desuso e deixo aqui o suspiro e todo o meu amor.

...!