quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Zzzz..

http://gotasdecodeina.blogspot.com/

domingo, 9 de maio de 2010

Aos Pedaços

O que entra pela janela é delírio. Esse feixe de luz invadindo a sala, clareando tudo. E o meu risco de semi luz resistindo a essa claridade me cega, me doma, me deixa sem ação.
- Houve uma época em que as pessoas eram felizes.
- Houve uma época em que as pessoas tinham coração.
- Expurga de mim essa dor.
- Só te tirando o coração.
- Tanta gente já não o tem, que diferença faz?
Faca no peito: ao menos dessa vez a ferida não veio pelas costas. Rasgos e retalhos: ao menos dessa vez os cortes não foram nos pulsos.
Eu tinha tanto amor, tanta fé, tanta dedicação e cuidado. Cuidei como se fosse de cristal, não como vidro. Como diamante, na certeza que de tão forte riscaria qualquer vidro barato. Não adiantou.
- Devolve aqui meu coração.
- Ele não vive mais.
- Preciso voltar a acreditar.
- Pedaço de qualquer negócio resolve. Coloca outra coisa no lugar. Bicho de pelúcia, coração de bananeira.
- Não vai bater.
- Reconstrói ele. Tivesses força um dia.
Eu tive tanta força um dia, tanta vontade. Eu, eu, eu. Como se o mundo girasse em torno de mim. Fui uma flor tão fácil de se cuidar, não chegava nem perto de ser cactus. Nem rosa eu era, porque não tinha espinho. Fui uma planta qualquer, com uma cor bonita e saudável. Hoje eu sou tão morta.
- Minha alma dói, tem como?
- Alma doer? O que dói é corpo.
- Minha dor é por dentro.
- Quer tirar mais alguma coisa?
- Por que mesmo sem coração ainda dói?
- Coração não manda em nada, menina. Quando se diz "sem coração", quer dizer sem sentimentos, e esses não vem de um órgão qualquer.
Eu quero tanto te amar, mostrar o que eu posso ser. Mas eu não tenho mais coração, só tenho alma, sentimento, algumas moedas e esse fio que separa a gente e faz de tudo tão amar-go. Um fio tão fino, mas tão forte.
- Eu te amei tanto um dia. Amei o improvável, o impossível, o que eu pensei que não existisse. E não existia. Eu amei ela com todas as minhas forças. Estas acabaram, o amor não.
- Faz qualquer coisa que faça esquecer. Joga as roupas fora, as fotos, os bilhetes.
- O cheiro? O beijo? O abraço?
- Joga tudo fora, menina.
- Não consigo, tenho apego.
- Vai chegar esse outro alguém.
- Na próxima esquina ela me espera.
- E o que vais falar a ela?
- I cheese sandwich you.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Lettres d'amour

"Alguém te amou e hão de te amar como eu te amei.
Há corações que te darão o que eu te dei.
Tu passas pela rua e a vida continua
E em mim também esta saudade sempre tua."

- É hora de voltar -, dizia a voz ao longe. - Aya, teu anjo da guarda te chama, é hora de voltar! - e assim se seguiu por repetidas e repetidas vezes naquilo que parecia um sonho, um sono. Mas eu não podia, ou não queria deixar aquele pedaço de paz. Nenhum anjo me chamava, eram só as pessoas implorando pela minha volta. Enquanto isso Iemanjá jorrava aquela água salgada guardada há tanto tempo, que tanto segurei.

A alma incolor, os olhos secos, coração devastado.
Não se planta quando não se tem disposição para cuidar, ou quando é algo momentâneo: plantarei e vou cuidar para o resto da vida até amanhã. Compra-se a semente, prepara-se a terra, despeja-se todo aquele pacotinho cheio do que um dia frutificará. Rega-se, cuida, coloca ao sol durante os três primeiros meses. Tem tudo pra ser uma planta linda, grande, cheia. Mas é difícil demais de cuidar e então vêm as distrações. A planta fica duas semanas sem água, e o que que tem? Quando regares de novo ela volta a ser como era. As formigas tomam conta da terra e comem as folhas. Resolvem, então, por podá-la. Talvez renasça. Mas é exigente e esquisita demais. Demora a dar novas flores, o dono enjoa e ela é esquecida.
Sem dar certo a planta, resolve por fazer um bolo. Segue à risca toda a receita, mas esquece o fermento. Que bolo cresce sem fermento? Não fez tudo o que deveria ser feito. Bolo no lixo.
Talvez cookies dê certo. Mistura pronta, tudo ao forno. Vai para sala assistir televisão até dar o tempo de ficarem prontos. Distração: os cookies queimam.

Tomo um rivotril, leio um livro pra dar sono, peço a benção aos meus Orixás e deito na certeza de que essa noite será tranquila, que dormirei a noite inteira. Acordo: apenas 3 horas "sonhando".

Todo mundo carrega no peito a esperança de um novo amor, que te cuide melhor, que regue a plantinha, que não esqueça o fermento nem deixe os cookies passarem do ponto por distração. Mas eu.. eu peço a quem poça me dar coisas simples: um pouco de paz, amor próprio e vontade de continuar. Continuar assim: mesmo nesse vazio, nesses amores descuidados, nessas saudades irremediáveis.
O sangue secando no peito. Em plena 5 horas da manhã. Nenhum corte, nenhum coração saindo seio afora. Nenhum sonho, nenhum sono, nenhum motivo ou vontade. A vida como cobra: trocando de pele.
Mais uma frustração na prateleira das ilusões. Mais uma vez sem conseguir fazer alguém feliz. Mais uma vez dispersa do mundo com a certeza de que sou coisas nada poéticas: perigosa, traidora, puta, vagabunda, vaca. A lista segue. Segue quando, na verdade, a única coisa que eu sou é sozinha.
Suspiro, e se ainda o faço é porque há algo de muito doce em mim. É, porque meu coração descompassado, árido, desértico, ainda respira. Porque suspiro leva tanto açúcar que não é coisa que vem do pulmão quando o fizemos, mas sim do fundo da alma.

Continuei ouvindo as vozes que me chamavam. Tarde demais: anjos da guarda cansados. Carregaram-me para o fundo do mar.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Sobre Os Perfumes Das Almas

Uma tinha nome e cheiro de flor. A outra tinha o nome do amanhecer e preferia os frutais e amadeirados. Uma se chamava Jasmin, a outra era Aurora.

Não costumavam se encontrar pelos corredores, mas quando acontecia os olhos viravam imãs. Eram vizinhas e cegas de amor a ponto de não se enxergarem.
Aurora era mulher feita: 32 anos e com vida bem resolvida. Jasmin ainda menina, a ninfeta dos sonhos da primeira. No auge dos 20 anos, sem planos nenhum e uma vida mal levada.

Naquela manhã, antes de tomar o rumo rotineiro, Aurora vasculhou a caixa de correspondências em busca de alguma conta. Logo que abriu a gaveta, sentiu exalar o perfume divino de qualquer coisa doce e terna. Alma feminina. Não entendeu de imediato de onde vinha tal sabor até se deparar com ele: um envelope vermelho sem nome, sobrenome ou endereço. Perfumado como os longos cachos da moça do apartamento ao lado. Aurora o pegou nas mãos e mais uma vez inalou aquilo que não sabia nomear, mas que a deixava de pernas bambas.

Esperou até chegar em casa. Ela adora sofrer a espera e surpreender-se com o que virá e, por isso, resolveu ir ao trabalho primeiro, voltou. O aroma já havia tomado conta do carro, da bolsa, das roupas e dela. Subiu correndo, tomou um banho e, ainda nua, deitou-se na cama. Pegou o envelope nas mãos e o abriu. Dentro, sucinta, uma frase apenas resumia o que Aurora precisava saber: a cada dia que me devoras com olhar, exalo meu perfume de dama.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Chorar...

E tornar a minha dor pública.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Coralina...

"E pensar que se você lê, meu amor, eu escrevo. E se você lê, meu amor, eu como. E se você lê, meu amor, eu continuo viva. É triste, mas se a gente pensar com carinho, é bem bonito."

Cora,

essa distância tem me matado. Embora vivamos em um mundo onde conseguimos nos comunicar com grande facilidade, enfrentamos a barreira do "não querer". Não queres me ler, me ouvir, me ver. Não fazes mais questão de me sentir. Afinal, o sentimento mudou ou fomos nós quem mudamos? Mudamos-nos uma de dentro da outra.

Adoçavas, amor, meus dias com teus beijos que me despertavam quando o sol já se espreguiçava nos dando bom dia. Hoje os raios só bronzeiam minha pele de nata, já não iluminam mais os meus sorrisos em acordar contigo. Eras, portanto, minha dose de brilho e calor diários.
Desde que te fostes, naquele domingo cedo, vivo no frio e no breu por tua falta. E o que resta a mim, mísera covarde, a não ser esse caderno onde escrevo meus relatos e lamúrias. Já não me basta alimenta-los dentro de mim. Resolvi que tamanho drama, dear, deveriam ser publicados ao mundo. O amor que, um dia, não deu certo.

Escrevo essas linhas na esperança de um dia lê-las e perceber que superei, que superamos, que nos amamos e tudo não passou de uma besteira, uma barreira muito fraca comparada às nossas forças.

Pergunto-te agora, Cora, o que sobrou de mim em ti? O que ficou de nós além dos nós? Umas saudades que te fecham os olhos e te fazem me buscar no escuro, ou apenas as lembranças e uma vontade de esquecer? Jamais desejaria virar assombro em tua vida. Nunca quis te ser pesadelo, amor.

Conforme as palavras me vêem, escrevo-te, por assim dizer, sem que saibas que o faço.


Luv,

Elinor.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

25/01/2010

Cora,

hoje recebi a visita de algo que vezes é conveniente, outras não: a saudade. Todos os dias ela tem vindo me ver aqui, em nossa casa. Tendo isso me trazido uma agonia, decidi por passar um perfume e dar uma volta.
Chegando às ruas, deparei-me com as vitrinas e olhando-as vi teus gostos. Tudo ali me remetia à ti. Vi as sandálias que me pedistes um dia, mas não tinha o teu tamanho. Agora tem e eu não posso te dar. Irritada que fiquei, peguei um cigarro de dentro da bolsa e parei por ali mesmo, pelas ruas, olhando para o ar. Pensei que algo extraordinário me pudesse acontecer: uma aparição divina, ou tu vindo em minha direção. A única cousa que consegui foi um acesso de tosse.
Segui adiante. Foi então que aconteceu o pior: passei em frente ao lugar onde nos beijamos pela primeira vez. Lá veio a desgraça de novo. Maldito sentimento de falta que não me deixa. E aí me veio uma carência dos teus carinhos, Cora! Que saudades matadoras. Por que nosso tempo foi e tem sido tão injusto?

Logo em seguida desisti de lutar contra e comecei a pensar naqueles nossos momentos, os que foram apenas nossos. As frases clichês, as brincadeiras sem vergonha. Ameacei um riso, seguido de uma angustia ensurdecedora! Acendi outro cigarro. Com a fumaça que eu expirava, pensava comigo: parte dela deve partir com essa penumbra que se forma em frente as minhas vistas. Mas livrar-me de ti não é ter liberdade, é desejar a solidão. E, Cora, tenho preferido à morte ao nosso desencontro.

Voltei para casa e liguei a tevê. Maldita tevê! Nela estava passando um filme ao qual assistimos juntas. Mudei de canal.

Agora estou na cama e escrevo esta carta em um papel com linhas azuis. A tinta da caneta também é azul e eu sou... triste. Azul nem sempre é triste. Li um pouco e agora aguardo, enquanto digito (não para ti, mas para quem interessar lê-la) esta carta, que a fada do sono me visite.

Acabo de puxar o cobertor que comprei e que usamos durante o inverno. Aquele branco, macio, que me roubavas toda noite me deixando completamente descoberta, mas que compraríamos mais e maiores para usar um por semana. Senti-me um pouco mais próxima de ti.

Dear, tanto que te quis só pra mim, tanto que te acolhi em meus braços que acabei por te sufocar e afugentar. Ah!, meu amor... desejo, agora, que nossos anjos nos guiem para caminhos certos, sejam eles os mesmo, fazendo com que nos encontremos lá na frente, ou opostos, para sempre distantes.

Da sempre tua,

Elinor.