"Alguém te amou e hão de te amar como eu te amei.
Há corações que te darão o que eu te dei.
Tu passas pela rua e a vida continua
E em mim também esta saudade sempre tua."
A alma incolor, os olhos secos, coração devastado.
Não se planta quando não se tem disposição para cuidar, ou quando é algo momentâneo: plantarei e vou cuidar para o resto da vida até amanhã. Compra-se a semente, prepara-se a terra, despeja-se todo aquele pacotinho cheio do que um dia frutificará. Rega-se, cuida, coloca ao sol durante os três primeiros meses. Tem tudo pra ser uma planta linda, grande, cheia. Mas é difícil demais de cuidar e então vêm as distrações. A planta fica duas semanas sem água, e o que que tem? Quando regares de novo ela volta a ser como era. As formigas tomam conta da terra e comem as folhas. Resolvem, então, por podá-la. Talvez renasça. Mas é exigente e esquisita demais. Demora a dar novas flores, o dono enjoa e ela é esquecida.
Sem dar certo a planta, resolve por fazer um bolo. Segue à risca toda a receita, mas esquece o fermento. Que bolo cresce sem fermento? Não fez tudo o que deveria ser feito. Bolo no lixo.
Talvez cookies dê certo. Mistura pronta, tudo ao forno. Vai para sala assistir televisão até dar o tempo de ficarem prontos. Distração: os cookies queimam.
Tomo um rivotril, leio um livro pra dar sono, peço a benção aos meus Orixás e deito na certeza de que essa noite será tranquila, que dormirei a noite inteira. Acordo: apenas 3 horas "sonhando".
Todo mundo carrega no peito a esperança de um novo amor, que te cuide melhor, que regue a plantinha, que não esqueça o fermento nem deixe os cookies passarem do ponto por distração. Mas eu.. eu peço a quem poça me dar coisas simples: um pouco de paz, amor próprio e vontade de continuar. Continuar assim: mesmo nesse vazio, nesses amores descuidados, nessas saudades irremediáveis.
O sangue secando no peito. Em plena 5 horas da manhã. Nenhum corte, nenhum coração saindo seio afora. Nenhum sonho, nenhum sono, nenhum motivo ou vontade. A vida como cobra: trocando de pele.
Mais uma frustração na prateleira das ilusões. Mais uma vez sem conseguir fazer alguém feliz. Mais uma vez dispersa do mundo com a certeza de que sou coisas nada poéticas: perigosa, traidora, puta, vagabunda, vaca. A lista segue. Segue quando, na verdade, a única coisa que eu sou é sozinha.
Suspiro, e se ainda o faço é porque há algo de muito doce em mim. É, porque meu coração descompassado, árido, desértico, ainda respira. Porque suspiro leva tanto açúcar que não é coisa que vem do pulmão quando o fizemos, mas sim do fundo da alma.
Continuei ouvindo as vozes que me chamavam. Tarde demais: anjos da guarda cansados. Carregaram-me para o fundo do mar.
4 comentários:
Lindo.
E como senti falta de coisas tão belas e líricas nesse seu hiato.
Entendo (ou pelo menos sinto por) sua dor. Espero que domine a vigília, espero que ache alguém e não mais padeça.
Às vezes não comento, mas sempre leio.
Verdade.
É que, por vezes (ou sempre), seu texto fala por si e eu prefiro não comentar a ficar no "lindo, lindo".
Porque você, que é flor primaveril e vento outonal, merece mais que adjetivos tão recorrentes quanto "lindo, lindo". Você merece o mundo, o mundo e o amor.
Me junto ao John, que não mais padeça, que não permita que ninguém arranque suas pétalas.
Que floresça sempre. Que continue a deixar suas palavras virarem folhas secas a cair no meu chão.
É, senti falta das suas palavras.
Flor, só pra avisar: mudei o endereço do blogue http://absurdoabinitio.blogspot.com/
então trate de nadar para a superfície. ou pelo menos bóie com seus suspiros, bóie até querer nadar de novo.
então faremos cookies, bolos e brigadeiro, tudo solado, queimado e sem gosto, mas com amor (:
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