quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Ocupação fora de época.

Andei muito ocupada. Estive 8 meses nisso. Com o que? Egocentrismo? Eu sou egocentrica? O quê? Olha o que você está falando! Egocentrica, egocentrica, e go cen tri ca, egocebtoisma! Não, não perdi a razão. Como? Com o que eu me ocupei? Oi, você andou ocupada? Não? Pois eu andei. Sim, ocupadíssima. Não... não... não... Não! Eu já disse que não. Não, não é outra. Você pensa que é outra? Estive ocupada 8 meses com outra? Ah!, sim... eu fui rápida antes. Ah!, claro, você odeia o meu ar de deboche. Uhum, uhum. Oi? É mesmo? Você também está ocupada com o trabalho e os problemas em casa? Puxa, quer conversar? Não, minha voz não tá de choro. De novo? Quer saber com o que eu estive ocupada? Por que tanta preocupação agora? Os últimos dois meses? Tres? Ah, nesses últimos tres meses eu andei podando o jardim. Uhum... uhum... é, erva-daninha. Não, daninha! Uhum, isso. É mesmo? Pois é, o ano no fim, essas festas me deixam sensível. Seus pais? Seus irmãos? É? Que bom! Ah, que ruim... Então, você pegou suas coisas com a minha mãe, certo? Não, não deixei nenhum bilhete mesmo. Não é falta de consideração, é que eu andei muito ocupada com uma coisa e agora eu estou vendo o resultado, então continuo sem tempo. Não!, você não é segundo plano, nunca foi. Oi? Continua com a mesma pergunta... você não muda o disco? Sim, eu posso responder. O quê? A sua prima? É mesmo? Nossa, que coisa. Não, eu não saí. Não, eu não fui à praia. Escuta, se você ficar quieta eu posso te contar com o que eu andei ocupada. Tá bom, vou falar:

Olha, desde dezembro de dois mil e oito eu estive ocupada em construir uma barreira enorme e impenetrável em que eu não deixaria ninguém sair e ninguém entrar. Expeli de mim todos os vermes, me deixei limpa e pura, e aí comecei a construir um muro lindo, impermeável, sem uma falha. Mas aí eu conheci você, e você era tão pequena pra mim que passou por uma fresta, ou destruiu com seu ácido o meu muro e quando eu vi você já morava em mim: construiu pouco a pouco os cômodos. Começou pelos gravetos, pregos, madeiras... suas farpas me faziam querer te colocar pra fora, mas aí você já estava na sala, no quarto, no sótão. Quando construiu e mobiliou tudo, deixando um caderno em cima da mesa para que eu escrevesse os planos, me deixastes ali, sentada, calma, quieta. Eu fiz a lista, escrevi com canela, com açúcar, com mel. Deixei em cima da mesa. Mas aí a folha ficou abandonada porque ninguém quis lê-la. Ela criou bolor, as formigas comeram algumas letras, o vento apagou alguns rabiscos. Ninguém leu, mas eu sabia o que havia escrito no meu papel manteiga.
Lembra que você tinha plantado um jardim? Você não cuidou... você chamou as ervas-daninha com a sua falta de cuidado. Você as convidou para entrar. Elas não fazem desfeita, sempre estão disposta a um belo manjar dos Deuses. Comeram folha por folha e ressecaram minhas orquídeas.
Depois veio o nosso castelo. Não era bem um castelo-de-princesa-com-duas-mil-bandeirinhas, mas eu gostava do nosso casebre. Com os ventos outonais algumas telhas voaram e a gente ficou meio sem chão. Aí a porta voou e você saiu por ela atrás de alguma coisa que eu não sei.
Na primavera eu descobri o que era a tal coisa. Coisa essa que me deixou um tanto amarga. Aquele ácido que você usou pra derrubar meus muros, eu guardei e aí ele resolveu passear pra fora de mim e voltar pra você. Nosso setembro foi um caos e eu chorei a sua morte antecipada. E você tentou se matar, se matando em mim. E eu morri ali.
Eu me mudei, você resolveu mudar. Eu vim para mais perto, mas já era tarde. Eu te amei do início, você resolveu amar a minha partida. Eu estive ocupada em construir o amor, você esteve ocupada em amar a felicidade. Eu estou ocupada em me reconstruir... você está ocupada em achar defeitos em mim. Eu gerei um sentimento por 8 meses, nós abortamos um mes antes de pari-lo.

Novamente dezembro chegou.