sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Sobre uns pézinhos de maçã.

Seus pés eram pequeninos. Tão pequenos que mal deixavam rastros quando passava, embora o peso fizesse com que a marca fosse profunda.
Eles não davam o equilíbrio que Margot precisava. Porém concentrava-se muito e, aos poucos, em passos pequenos que suas longas pernas se habituavam a dar, aprendeu a caminhar sem nunca tropeçar ou cair, reclamando a cada vez que ameaçava acontecer um "não dou, não dou, não dou". A menina tinha certeza de que esse era o seu bordão feito em dó ou ré maior.

A camponesinha, sempre que levantava o avental procurando segurar as frutas postas nele, perdia a visão dos pés. Céus, que formigas escondiam tão pequenos pés sem rumo? Que se refrescavam à sombra de uns aventais tão gastos e já sem pano.

Tudo crescia na criança, até o coração que já não cabia mais no peito. Mas os pézinhos, não. Eram assim, pequenos e delicados como mão de princesa. Traziam em cada unha um nome e cabiam naqueles sapatinhos como se houvessem sido feitos sob medida. E nem eles, que eram de madeira, conseguiam tirar a suavidade dos pés da menina, que encolhia ao ver alguém com pés grandes se aproximar, com medo que matassem seus dedinhos.

Já acostumada com o que não tinha jeito, a menina foi a cidade vender as frutas colhidas da estação. No meio do caminho, Margot tropeçou em uma corda, dessas de crianças brincarem - coisa que ela nunca pode fazer. Foi seu primeiro tombo, que levou alguns dias para torna-la firme sobre os pés, pois sendo eles tão minúsculos, era difícil conseguir o equilíbrio como antes.

Margot, que nunca tivera muito com o que lidar, chorou com a vergonha de ficar no chão por tanto tempo e machucar as mãos que, embora calejadas, ficavam sempre amostra e eram tão brancas.
Ela descontou seu desgosto mordendo maçãs azedas e rijas.

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